Aldair DantasNo CDP masculino da zona Norte, os presos destruírem as nove celas da unidade.
"Os policiais militares farão a segurança dos apenados enquanto recuperaremos a estrutura do CDP. Não temos condições de transferirmos os presos. Não há espaço em lugar nenhum", disse Thiago Cortez ao final da reunião com o comandante geral da Polícia Militar, coronel Araújo, e com o coordenador do sistema prisional estadual, José Olímpio. Ontem, ocorreram motins em cinco unidades carcerárias no RN. Nessas, o deficit é de aproximadamente 712 vagas. Conforme decidido, o coronel Araújo afirmou que um efetivo extra de policiais militares seria enviado ao CDP minutos após o término da reunião, que ocorreu por volta das 21h. Entretanto, até às 23h de ontem, nenhuma equipe de policiais militares estava à postos no Centro de Detenção Provisória para garantir a segurança da unidade. "Iremos reforçar o efetivo com mais policiais", afirmou o coronel Araújo.
Por volta das 22h, uma equipe de policias do Batalhão de Choque e outra que realiza a segurança das ruas de alguns bairros da zona Norte chegou a entrar no CDP, mas não passaram muito tempo. Os próprios policiais militares reconheciam que a situação estava complicada. Do lado de dentro da unidade prisional, os detentos cobravam providências e se diziam cansados. Eles estavam há doze horas num espaço de aproximadamente seis metros quadrados sem cobertura, onde eles costumam tomar banho de sol.
A expectativa era de que eles voltassem para o que restou das celas, onde passariam a noite dormindo no chão, pois os colchões estavam molhados e já haviam sido recolhidos para o pátio externo do CDP. A limpeza do entulho gerado pela destruição das nove celas que compõem o Centro de Detenção foi feita durante a noite, quando a possibilidade de transferência foi descartada pela Sejuc. Para hoje, dia de visita íntima nos presídios estaduais, a Polícia Militar afirmou que a segurança será reforçada.
Além do CDP da zona Norte, ocorreram rebeliões em outras unidades estaduais. No Presídio Estadual de Parnamirim (PEP), 200 presos destruíram as grades do pavilhão 2. Os motins ocorreram também na Penitenciária Desembargador Francisco Pereira da Nóbrega, o "Pereirão", em Caicó, e na Cadeia Pública e Presídio Agrícola Mário Negócio, ambas em Mossoró.
Rebelados do CDP zona Norte destruíram nove celas
Na zona Norte, os 85 homens que cumprem pena no Centro de Detenção Provisória (CDP) debelaram um motim por volta das 9h de ontem. Em pouco tempo, destruíram grades, derrubaram paredes e desfizeram as ligações das redes hidráulica e elétrica. Somente após a chegada do Grupo de Operações Especiais (GOE) formado por agentes penitenciários, em torno do meio dia, a rebelião foi contida. Os agentes do GOE utilizaram uma bomba de efeito moral (gás lacrimogênio) para conter os amotinados. Com o movimento sob controle, os presos foram levados para o solário onde ocorreu a contagem. Não houve fuga, reféns ou feridos.
Sem a possibilidade de manter os presos no CDP devido à destruição causada pela rebelião, a direção decidiu solicitar a transferência dos homens para outros presídios da capital. "Não temos condições de mantermos estes homens aqui no CDP. As celas estão destruídas", disse o diretor João Batista Medeiros da Silva. A segurança do Centro é feita por três policiais militares e três agentes penitenciários que cuidam desde a revista dos visitantes à abertura e fechamento das celas.
O Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque) chegou a ser chamado pela direção do CDP mas a entrada dos policiais militares na unidade não foi necessária. Os quatro agentes do GOE contiveram os detentos sem realizarem disparos. De acordo com João Batista, a rebelião começou depois que os presidiários assistiram reportagens sobre as rebeliões deflagradas nos presídios de Caicó e Parnamirim. "Não havia um motivo específico. Foi pura baderna. Eles se espelharam nos outros detentos e destruíram o CDP", Do lado de fora da unidade prisional, os familiares dos apenados estavam apreensivos. Duas mulheres chegaram a brigar duas vezes enquanto aguardavam notícias dos companheiros. Muitas mães choravam e diziam que só sairiam da frente do Centro de Detenção depois que tivessem certeza de que os filhos estavam bem. "Se preciso for, iremos passar a noite aqui", dizia uma das mulheres.
Presos quebram grades de 18 celas em Parnamirim
Alex RégisParentes dos detentos que esperavam para visita semanal tiveram que ser controlados pela PM
No Presídio Estadual de Parnamirim (PEP), cerca de 200 presos ocupantes do pavilhão 2 quebraram as grades das 18 celas que compunham o setor carcerário. A depredação se iniciou às 6h15, devido a um atraso de 15 minutos para abertura dos pavilhões e liberação para o banho de sol. No momento, havia três agentes penitenciários para fazer a abertura das celas. Em posse de barras de ferro os presos quebraram os cadeados das celas e com as próprias mãos arrancaram as grades, das quais boa parte delas foram levadas para o solário onde foram exibidas como prova de poder. Pelo menos trinta agentes da segurança, entre policiais militares, membros da Central de Escolta e do Grupo de Operações Especiais entraram em cena para conter os detentos. Depois de contornar a situação, os cerca de 200 detentos foram levados para o solário, para recontagem. , local em que foi feita a recontagem para depois ser realizado o reencaminhamento deles para as celas sem grades, mas cuja área de contenção - local entre a saída do pavilhão e solário - será reforçada e posto policiamento para garantir que as centenas de homens não alcancem o lado exterior do pavilhão.Em Caicó, colchões foram incendiados
Na Penitenciária Desembargador Francisco Pereira da Nóbrega, eram 9h30 quando 20 presos do pavilhão "C" - onde estão alojados 150 homens dos 310 que cumprem pena em regime fechado -, começaram a pôr fogo em colchonetes devido a mudança do preso de outro setor para lá. A diretora da unidade, Veruska Saraiva, informou que a baderna teria ligação com demarcação de território e confirmação de lideranças. A gestora lembra que o clima estava tranqüilo, mas os detentos se aproveitaram da saída dela e começaram as ações incendiárias. Ela nega que os apenados tenham feito disparos de armas de fogo, afirmando que somente uma grande quantidade de barras de ferro e facas artesanais foram encontradas, o suficiente para encher três sacolas. No total, são 310 do regime fechado, 65 do semi-aberto, 40 no aberto e 12 mulheres do regime semiaberto.
No momento da rebelião, sete agentes masculinos e quatro femininos estavam em serviço no Pereirão. Eles foram ajudados por policiais militares do Grupo Tático de Combate para conter aqueles que estavam em rebelião. O Corpo de Bombeiros também foi acionado para conter as chamas que destruíram dezenas de colchonetes e peças de roupas.
Em Mossoró, detentos de duas cadeias se rebelam
Dois dias após a descoberta de um túnel e a contenção de uma rebelião no Complexo Penal Agrícola Estadual Doutor Mário Negócio (CPAEDMN), situado na zona rural de Mossoró, presos voltaram a se rebelar. Internos da Mário Negócio e também da Cadeia Pública Juiz Manoel Onofre Lopes de Souza iniciaram uma rebelião na tarde de ontem. A confusão nas duas unidades só foi contornada após a chegada do reforço de policiais militares. No Complexo Penal, a crise foi maior e um agente chegou a ser ferido por uma pedra. Os presos destruíram algumas celas e queimaram os colchões.
A rebelião na Mário Negócio começou por volta das 12h, quando houve um atraso na entrega do almoço dos internos. A revolta foi na área onde ficam presos os condenados em regime fechado, segundo a diretora da unidade, Vilma Oliveira Paixão. O gás que abastece a cozinha do Complexo chegou com atraso, retardando, consequentemente, o horário do almoço.
A revolta na Mário Negócio só foi contida por volta das 16h de ontem, quando seis presos apontados como líderes da rebelião foram retirados da cela e responsabilizados criminal e administrativamente pelos danos contra a estrutura física da unidade prisional, pela lesão ao agente penitenciário, e pela incitação da violência e do motim. Todos foram levados para a II Delegacia de Polícia Civil, onde foram autuados ainda ontem.
Já na Cadeia Pública Juiz Manoel Onofre Lopes, que também fica situada na zona rural de Mossoró, a rebelião foi contida mais rapidamente. Os presos se revoltaram mais uma vez, logo no início da manhã. Devido a greve dos agentes penitenciários estaduais, deflagrada em Mossoró no fim de semana passada, a visita íntima seria cancelada. Os presos se revoltaram e iniciaram um motim. A confusão, assim como na Mário Negócio, só foi contida após a chegada de equipes da Polícia Militar. Os policiais invadiram a área que estava em descontrole, dispersaram os presos e contiveram o quadro.
Promotoria investiga falta de ação da Sejuc
O 17º promotor de Justiça da comarca de Natal, José Braz Paulo Neto, instaurou inquérito civil para investigar a suposta falta de ação do do Governo do Estado e da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) para resolver ou diminuir o problema da superlotação nas unidades prisionais do Estado. Foi solicitado aos diretores de CDPs e Cadeias Públicas informações sobre o número de presos custodiados, além do relatório sobre o número de presos julgados. Especificamente, em relação a diretoria do Complexo Penal João Chaves foi solicitada uma relação com a quantidade de presos custodiados nos regimes aberto e semi-aberto e também o de presos condenados, se existirem nas dependências destinadas aos do semi-aberto. Também foi pedido uma listagem com o número de presas albergadas no setor de regime fechado da João Chaves, além das condições em que as detentas que progrediram para o semi-aberto estão cumprindo suas penas. Foi dado um prazo de 10 dias para que o Estado se manifeste.
MEMÓRIA
Existe um histórico de intervenções da Justiça e Ministério Público em busca de solucionar ou minorar o problema da superpopulação carcerária potiguar. Inicialmente, o promotor de Investigação Criminal, Wendell Beetoven, recomendou aos policiais civis que entregassem a custódia dos presos em flagrante aos agentes penitenciários e se fizesse cumprir as decisões judiciais, as quais estariam sendo desobedecidas por alguns diretores de unidades alegando não haver mais espaço onde recebê-los. O corregedor dos presídios e Juiz da 12ª Vara de Execuções Penais, Henrique Baltazar, determinou que os centros e cadeias não recebessem mais presos sem que antes fossem providas as vagas necessárias para absorvê-los, no intuito de evitar o agravamento da situação.
Fonte: http://tribunadonorte.com.br/noticia/presos-sao-mantidos-em-cdp-destruido/198978
Nenhum comentário:
Postar um comentário