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domingo, 18 de setembro de 2011

Códigos do Crime


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As marcas do crime não se restringem às pistas deixadas pelos criminosos aos investigadores. O “rastro” dos delitos também está cravado e cifrado nos corpos de quem os comete. Mesmo com a popularização e aperfeiçoamento dos desenhos indeléveis, principalmente a partir dos anos 1990, quando os tatuados se livraram do estereótipo “maloqueiro”, símbolos e inscrições ligadas ao crime continuam manifestados desta forma.


Em Bauru, a Polícia Militar está de olho não somente na atitude dos suspeitos. As marcas de tinta nos corpos de possíveis criminosos também são observadas com atenção pela PM. Por meio de um detalhado “catálogo”, ao qual o JC teve acesso, com diversos tipos de gravuras cifradas, a corporação traduz as marcas exibidas por criminosos, registradas espontaneamente ou por determinação de outros presos e membros de facções.


A cartilha, entretanto, não é uma publicação oficial interna da corporação. Concebido informalmente, o documento é uma fonte a mais de informação aos policiais.
Na cidade, observa o tenente-coronel Nelson Garcia Filho, comandante do 4.º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPMI), são comuns entre criminosos as tatuagens alusivas às facções, principalmente o grupo organizado conhecido por forte atuação dentro dos presídios.


A facção dá “o tom” em Bauru representada seja pela figura de um palhaço ou de uma carpa tatuados nos simpatizantes do grupo criminoso. Os desenhos, concebidos de forma rudimentar e totalmente artesanal, atualmente, abrangem figuras até então acima de qualquer suspeita, que, até pouco tempos atrás, nada tinha a ver com qualquer modalidade criminal.


Contudo, o tenente-coronel tranquiliza quem, por ventura, exibe uma figura “do bem”, desvirtuada pelo crime, no corpo. “Os policiais têm visão moderna sobre o assunto. O que é artístico, bem trabalhado, não pode ser taxado como bandido”, diferencia. “Os tatuadores, em grande parte, são altamente profissionais”, reconhece.


Até mesmo o endiabrado personagem Taz-Mania, da turma do Pernalonga, hoje em dia, é utilizado para denotar o “salve” da bandidagem.
Por isso, enfatiza o policial, é fundamental aos que pretendem tatuar o corpo selecionar artistas e estúdios adequados, a fim de evitar garranchos na pele, entre outras dores de cabeça. Tatuador profissional há mais de trinta anos, Johnny Pescatore conheceu as duas diferentes épocas da tatuagem.


Contemporâneo tanto da época em que desenho no corpo era coisa de gente “do mal” quanto dos atuais bons olhos da moda sobre as tatuagens artísticas, ele separa o “joio do trigo”. “Existe uma enorme diferença entre o trabalho artístico com alguma outra forma de tatuagem feita ‘por fora’, até mesmo por criminosos”, observa.


Perante ao inevitável apreço dos bandidos por símbolos hoje livre de conotações “escusas”, o tatuador repete o conselho do tenente-coronel da PM.


“Não posso dizer para que deixem de desenhar isso ou aquilo. O importante é o pessoal buscar algo mais elaborado, há uma grande diferença na maneira de fazer”, reforça.



Quem comete latrocínio ou mata policial tem ‘marca’


Alguns símbolos são totalmente ligados à criminalidade. Diferentemente da figura central do brasão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), esquadrão de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro, caracterizada por uma caveira com uma faca na vertical com armas cruzadas na diagonal, o desenho semelhante de um crânio esfaqueado, usado pelos criminosos, tem significado sombrio. A figura em questão identifica o que os bandidos chamam de “matador de policial” ou então praticantes de latrocínio, quando o bandido mata a vítima de roubo.
Estupradores, estes tatuados à revelia na prisão, onde têm o corpo invadido não apenas pela agulha dos vingativos colegas de cela, são identificados por uma borboleta, nas nádegas, segundo o material consultado pela PM.


Nem mesmo imagens sacras escapam do catálogo de desenhos “do mal”. Nas rústicas e mal traçadas linhas do crime, santos ou a cruzes, respectivamente, designam sentenciados com penas pesadas a cumprir e até mesmo a aterradora prática de magia negra.


A cartilha da PM ainda detalha tatuagens que denunciam detentos com aids (teia de aranha na nuca), traficantes (uma delas é a do saci pererê na perna direita) e viciados em drogas pesadas.


Outro traço da tatuagem de cadeia é a forma rudimentar com que são realizadas dentro do cárcere.

Arrependimento não impede cicatriz


O alerta da polícia e de tatuadores sobre os cuidados antes de fazer uma tatuagem, principalmente depois que criminosos adotaram símbolos antes sem conotação escusa, vem a calhar com a dificuldade em removê-las em caso de arrependimento.
“As tatuagens são um problema de difícil solução quando a vontade do paciente é retirá-las sem cicatriz no local”, observa o cirurgião plástico Antônio Assunção.


Segundo ele, a cicatriz resultante de um tratamento depende do tamanho, forma e localização dos desenhos, que podem ser removidos com auxílio de tecnologia laser.
Mesmo assim, adverte o médico, a “limpeza” não é plena. “Grandes superfícies corpóreas podem ter a intensidade das cores atenuada pelo raio laser, mas nunca desaparecerão por completo, como se nada tivesse acontecido”, avisa.


Entre os que se arrependem, literalmente, de corpo e alma, o fato de ter cravado os códigos e faces do crime na própria pele, está um guardador de carros de Bauru, que pede para não ser identificado.


Ex-presidiário e atualmente fazendo bicos numa rua central da cidade, ele conta ao JC que as únicas lembranças que mantém – porque é obrigado – da vida no crime estão marcadas nos braços e costas, a principal delas com a cara da morte.


 Estampada no braço com máquina, agulha e tintas improvisados na época em que cumpriu sentença por roubo no Instituto Penal Agrícola (IPA), quando o presídio ainda operava no regime fechado. “Se eu pudesse voltar no tempo, não faria isso. Mas eu não quis nenhum significado no meu corpo”, alega. “Fiz as tatuagens mais no embalo dos outros mesmo. Vi reportagens sobre como tirar. Mas sei que é difícil, caro, e além de tudo não é garantido”, resigna-se. “Mas estou feliz de ter deixado isso tudo para trás”, considera o flanelinha, de 43 anos, envolvido em crime no ano de 1993, mas com cicatrizes eternas e coloridas.

Proibido

Basta uma agulha e qualquer tipo de tinta – até mesmo seiva de caju é improvisada na falta de pigmento, observa o oficial da PM – e uma mão não obrigatoriamente habilidosa, para colorir partes do corpo de um criminoso muitas vezes forçado a tatuar símbolos de uma facção específica.



No entanto, apesar de todos saberem da existência de “artistas” dentro dos presídios, tatuar no interior das celas não é permitido, seja pela confecção de símbolos criminosos e por uma questão de saúde pública, pois o risco de transmissão de doenças através da agulha é grande.


Um agente penitenciário de Bauru, cuja identidade será preservada, confirma o recolhimento, durante varreduras, de apetrechos para tatuagens dentro do xadrezes. Segundo ele, apetrechos para tatuagem têm o mesmo caráter proibitivo de outros itens, como armas ou drogas.



Fonte: http://www.jcnet.com.br/noticias.php?codigo=220988


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