Brasília – Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) repercutiram hoje (14) as declarações
do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre os defeitos do
sistema prisional brasileiro e da fase de execução das penas. O
assunto foi debatido durante o julgamento da Ação Penal 470, o processo
do mensalão, que levará 25 condenados a cumprir pena, a maioria delas,
em regime inicial fechado.
A discussão começou quando o ministro Antonio Dias Toffoli defendeu
uma pena financeira mais grave no lugar da pena restritiva de liberdade
para o réu José Roberto Salgado, ex-vice presidente do Banco Rural,
alegando que esta tem resquícios do período medieval. “Já ouvi aqui que o
pedagógico é colocar pessoas na cadeia, mas o pedagógico é recuperar
valores desviados”, argumentou.
O ministro Marco Aurélio concordou: “A parte mais sensível do corpo
humano é o bolso”. Já o ministro Ricardo Lewandowski disse que pode
reconsiderar seus votos sobre as multas, que estão sempre em patamares
menores que as do relator Joaquim Barbosa.
Responsável por ações voltadas à área carcerária quando era
presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o ministro Gilmar
Mendes disse “louvar” as críticas de Cardozo, mas lamentou que o assunto
tenha sido abordado tardiamente. "Esse problema existe desde sempre,
temos responsabilidade na temática. Temos um inferno nos presídios”.
Para Mendes, é conveniente discutir a questão agora que ela foi
colocada em evidência no julgamento do processo do mensalão. “É preciso
que o governo federal tenha percepção que tem que participar de debate
sobre segurança pública porque tem as verbas e a função de coordenar.
Isso não foi prioridade e por isso estamos neste estado de caos”, disse.
O ministro Celso de Mello também citou as declarações de Cardozo
para criticar o sistema de execução penal, que classificou como
“exercício de ficção jurídica”. “É importante que o senhor ministro da
Justiça revele publicamente sua preocupação com o estado de coisas em
que se acha o sistema penitenciário do país”, disse, ressaltando que a
mudança no tratamento da questão deve partir do próprio Ministério da
Justiça.
Para o ministro Luiz Fux, por mais que as mudanças no sistema
prisional sejam necessárias, inclusive com a valorização da pena
pecuniária, é preciso respeitar a vontade do legislador e estabelecer
penas de prisão nos casos em que elas são necessárias.
No final da sessão, o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, disse
em entrevista coletiva que não vê elo entre as declarações de Cardozo e
as punições que estão sendo aplicadas na Ação Penal 470. Para Britto,
Cardozo falou com honestidade sobre uma situação geral dos presídios
brasileiros.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-11-14/ministros-do-stf-criticam-sistema-prisional-brasileiro
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