Em outros países, os desastres naturais tendem a ser menos
devastadores, face o esforço sinérgico de governo e sociedade. Por aqui, o medo
vem apossando-se de nossa população, na proporção direta da descrença nas ações
de defesa da sociedade e da desconfiança nas autoridades e instituições
destacadas para realizá-la.
Ocorrendo
quebra de confiança na capacidade do Estado proteger os seus, o medo se espalha
e a crise se instala. De um lado, o cidadão sofre com a sensação de
insegurança, chegando a pensar que o "rei está nu", o que leva à
propagação das milícias e a busca de soluções na indústria da insegurança. De
outro, o criminoso perde o receio de sua ação ser limitada e contida por uma
força contrária, ensejando seu cálculo de custo-benefício a levá-lo a atitudes
mais ousadas. Tudo se agrava se é criada uma cultura do terror, através da qual
a morte de policiais ou o incêndio de ônibus tornam-se prêmios em uma escala
valorativa da criminalidade. Lembram os animais mostrando força para a matilha,
buscando conquistar espaço.
Se
a liberdade do homem deve ser mediada institucionalmente, os fundamentos
civilizatórios devem ser introjetados através procedimentos socialmente adequados,
v.g. a milenar educação. Educação com início na família, onde são (?) ensinados
os valores, os costumes, as regras, passando pela escola e pela igreja, onde
são (?) fortalecidos, terminando no convívio social, onde são (?) praticados e
consolidados.
Esse
ciclo vem perdendo substância – daí, as interrogações – por vários motivos: desestruturação
familiar, origem do hiato entre concepção de responsabilidade familiar de ontem
e impossibilidade de cumprimento pela família de hoje; depreciação do Educador,
a base da educação escolar; a ressocialização, ficção em estabelecimentos
penais. A falta de políticas públicas efetivas em relação à criança em situação
de risco, ao jovem em conflito com a lei, à população em situação de rua, ao
encarceramento são questões de Estado que já se constituem numa síntese
hegeliana. O medo sentido hoje, por descrença e desconfiança, será transmudado
em terror amanhã, se nada for feito.
A
médio e longo prazos, urge um planejamento de defesa social que, em paralelo à
inclusão, recubra as vulnerabilidades na família e priorização do Educador,
resgatando sua autoridade, seu empoderamento e, sobretudo, sua dignidade. A
curto prazo, retomar a confiança da população, reduzindo a sensação de
insegurança, através policiamento bem visível, reforçando a interação
comunitária, investimento na polícia judiciária, principalmente em sua estrutura
de inteligência e na polícia penal. Emergencialmente, envolvendo líderes
comunitários, religiosos, voluntários e utilizando a Escola, desenvolver um
mutirão, um grande esforço de guerra, através de palestras multidisciplinares,
com alunos e famílias, sobre o corpo social, cidadania e, principalmente,
civilidade.
Lamentavelmente,
nossa população necessita ser reeducada para a convivência harmoniosa e
pacífica!...
Amauri Meireles - Coronel da Reserva da PMMG
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