Sejam Bem Vindos!!

Também no Orkut:

widgeo.net

domingo, 1 de maio de 2011

Em Alagoas, 15% dos presos tentam a ressocialização



Começar de novo. É esse o sentimento, que leva 328 reeducandos com melhor comportamento, a se engajarem no trabalho na Fábrica de Esperança, dentro do sistema penitenciário alagoano. O projeto que engloba ressocialização, cursos profissionalizantes e laborterapia (terapia ocupacional), tem mudado a vida desses presos. A maioria dos que participa das atividades, passa a encarar a vida no cárcere de forma diferente e, principalmente, almejam nunca mais voltar à criminalidade. Dentro do presídio, eles passam a ocupar a vida com trabalho, ganham novas opções profissionais e quiçá uma chance de emprego quando recuperarem a liberdade, além de terem a redução de pena por cada dia trabalhado, como manda a Lei de Execuções Penais (LEP). “Quando eles passam a trabalhar dentro do sistema, ganham algumas regalias e uma delas é o fato de terem redução de pena, por cada dia trabalhado. Sem falar que eles ainda têm direito a receber salário, que é cerca de R$ 1,85 por hora. Pode parecer pouco, mas esse dinheiro tem ajudado muitas famílias de presos e a eles mesmos, a recuperarem sua dignidade”, disse o diretor de Educação, Produção e Laborterapia da Superintendência Geral de Administração Penitencia (SGAP), Sebastião Sérgio da Silva.
Os dias melhores estão onde menos se espera
Atualmente, na Fábrica de Esperança existem 30 setores e 25 oficinas profissionalizantes. Os reeducandos trabalham com mecânica, horta, premoldados, saneantes (sabão, detergentes), artesanato (filé, pintura, tornaria, corte e costura), serraria, serralharia, padaria e a fábrica de bolas, essa última que é um programa do Governo Federal. Além, da Indústria do Conhecimento do Sesi, que tem cursos de informática básica e ainda uma biblioteca à disposição dos reeducandos.
O número de vagas oscila de acordo com o número de presos. A princípio, todos podem participar, porém é necessário ter um bom comportamento e passar por uma pré-seleção para fazer parte da Fábrica de Esperança. “Existe uma comissão de classificação, que analisa a necessidade dos presos e o comportamento de cada um. As vagas são tanto para os reeducandos condenados, quanto para os provisórios. Outra coisa que pode evitar que o preso participe dos trabalhos é ainda a decisão da Justiça: aqueles com crimes mais graves não podem trabalhar”, explicou Sebastião Sérgio. “Quando eles conseguem uma vaga para trabalhar, se empenham muito para se manter. Na Fábrica de Esperança, eles ficam em módulos separados e passam a ter uma vida mais tranquila”.
Com a oportunidade de trabalho, a situação do sistema penitenciário tem mudando.
Indústrias vão completar processo
A esperança de uma vida melhor, pode ganhar forma ainda esse ano, quando deve ser instalado no entorno do sistema prisional o Núcleo Industrial BR-104. Cinco fábricas já receberam a autorização para ocupar o espaço e, como contrapartida, empregará parte da mão de obra vinda das unidades penitenciárias. “Acredito que essas fábricas sejam uma grande oportunidade para quem passa para o regime semi-aberto. Muitos, quando deixam o presídio, não conseguem arrumar emprego. Essa chance pode ser o que falta para o processo de ressocialização ser completo. Até o final de maio, a primeira fábrica deve ser instalada”, contou Sebastião Sérgio da Silva.
A Fábrica de Esperança é um local tranquilo, onde os reeducandos circulam normalmente. Apesar de ficar localizado dentro do sistema penitenciário, o ambiente não lembra nem de perto a realidade dos presídios. O local é limpo e as pessoas demonstram certa alegria em trabalhar. Tudo transcorre como em qualquer outro espaço de trabalho. Não existe nenhuma diferença: ali todos são iguais e os crimes do passado ficam esquecidos.
É com a frase, “as mesmas mãos que um dia incomodaram a sociedade, hoje constroem um mundo novo com plena consciência de cidadania”, que os trabalhos na Fábrica de Esperança são regidos. É com ela, que os presos trabalhadores tiram forças, para conseguir superar as dificuldades dentro do sistema penitenciário.
Trabalho ensina a enxergar novos rumos
Na serigrafia, a história se repete. O jovem Williams José dos Santos, 28 anos, cumpre pena por homicídio. Ele é assassino confesso de um duplo homicídio cometido em Pernambuco. Sem receio, ele relembra sua ‘tragédia’ particular, afirmando se arrepender. “Matei minha ex-mulher, junto com o amante dela. Não devia ter feito aquilo. Foi uma tragédia para mim que estou aqui e muito mais para minha mãe, que ficou fora sofrendo. Me arrependo do que fiz, e jamais cometerei outra coisa desse tipo. Estava de cabeça quente”, conta.
Williams trabalhava como capoteiro, mas quando sair do presídio tem esperança de continuar no ramo de serigrafia. “Acho que não vou conseguir trabalho fixo. As pessoas têm preconceito, não vão querer empregar um ex-presidiário. Mas quando sair quero trabalhar para mim ou com a minha família. Gosto da serigrafia, me ajuda a refletir e melhorar. Aprendo coisas novas todos os dias aqui e. sem dúvida, é esse trabalho que faz suportar os dias no presídio”, relata. “Estou aqui há dois anos e três meses, mas não vejo a hora de sair do presídio. Sou alagoano e como não posso mais morar em Pernambuco por causo do crime, quero recomeçar minha vida na minha terra. Não vejo a hora de sair. Mas tenho que pagar pelo que fiz”.
Em outro setor da Fábrica de Esperança, Willis Guilherme dos Santos Moraes, de 24 anos, também tenta amenizar sua pena de 5 anos e 4 meses com muito trabalho. Ele trabalha na finalização de peças de madeira. “Cometi um triplo homicídio na cidade de Penedo. Arrumei umas brigas em casa, me juntei com umas amizades ruins e acabei na criminalidade. Se pudesse voltar no tempo, jamais tinha feito o que fiz. Mais tudo serve para evoluirmos e estou aqui agora. Posso garantir que sou outra pessoa. Com o trabalho descobri quem eu sou, minhas qualificações, que tenho valor”, afirmou.
Mãos fortes para a delicada arte do filé: trabalho para vencer desafios
Na Fábrica de Esperança, o trabalho delicado do filé é feito com cuidado, pelas mãos firmes dos reeducandos José Cícero de Lima, 40 anos e José Carlos de Oliveira Lopes, de 57. Os dois se conheceram no sistema penitenciário. O primeiro natural da cidade de Murici, já foi condenado por assalto à mão armada, o outro da cidade de Penedo, está há dez anos no presídio, perto de completar sua pena por duplo homicídio. José Cícero é réu confesso e garante que se arrependeu. José Carlos nega o crime, mas garante não guardar rancor.
As histórias dos “Josés” são diferentes, mas se encontram no momento em que eles passam a dividir o trabalho e aprendizagem dentro do sistema penitenciário. Foi através do filé, que eles aprenderam a ter mais paciência e conseguiram fazer com que a pena fosse cumprida, passasse de forma mais serena.
Para José Cícero, trabalhar com o artesanato de filé foi superar desafios. Na vida fora do cárcere, ele era mecânico. “Tentei uma vaga na mecânica, mas não consegui. Daí, sugeriram eu vir para o filé, No começo fiquei receoso, mais depois que aprendi a arte, me sinto feliz com o que faço. Jamais imaginei trabalhar com agulha, mas o trabalho tem me ajudado a superar as dificuldades e, principalmente, ajudado a manter a saúde mental”, disse.
Da penitenciária para a universidade
A chance de ingressar na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) foi literalmente agarrada pelo reeducando Leonardo Lourenço da Silva, de 28 anos. Durante alguns meses, ele dividiu o tempo entre o trabalho na Fábrica de Esperança e ajuda dos monitores no estudo para o Processo Seletivo Seriado (PSS). Foi esse empenho e muita força de vontade, que fizeram com que o jovem fosse um dos aprovados no curso de Matemática.
As aulas começam em julho e ele espera que até lá, esteja cumprido sua pena no regime semiaberto. “Fui condenado a trinta anos de prisão, só que já cumpri um sexto da pena como manda a Lei. Sou acusado de um assalto que cometi em Brasília, minha cidade natal e de um latrocínio, realizado aqui em Maceió. Me arrependo muito pelo que fiz e sei que já é o momento para recomeçar. Agora, espero ser liberado e poder estudar”, conta.
Conhecer e aprender para ensinar
O mais novo setor que integra a Fábrica de Esperança, trabalhando na ressocialização dos presos, é a Indústria do Conhecimento do Sesi. Na biblioteca, única dentro de um presídio, em todo País, os reeducandos recebem aulas de informática, podem locar livros na biblioteca, fazer pesquisas, além de receberem palestras sobre os diversos temas. O mais interessante no local é o fato, que uma das funcionárias é uma ex-reeducanda.
Vagnar Barbosa passou um ano e sete meses detida no presídio Feminina Santa Luzia e quando ganhou a liberdade foi direto trabalhar na Indústria do Conhecimento. “Depois que cumpri minha pena, já tinha em mente nunca mais ingressar no crime. Cometi um furto e jamais quero ter que fazer isso de novo. Ao receber a liberdade fui presenteada duas vezes, já que deixei o presídio e ainda arrumei um emprego”, conta. “Tem sido uma grande alegria trabalhar aqui. Além de ter uma oportunidade fora da penitenciaria, ainda posso ajudar outros presos. Sem dúvida me sinto valorizada. Sou muito mais feliz”.
Para a professora do Sesi, Marilene Abrósio, o trabalho dentro do presídio é recompensador. “Com a educação, ocupação da mente e o trabalho, muitos desses presos tem mudando seus comportamentos e passam a ser pessoas melhores. A vida dentro da prisão é muito complicada, por isso qualquer oportunidade que os afaste da dura realidade é recompensador”, disse. “É muito bom ver a atenção que eles têm diante das palestras. Ficam atentos, participam e se empenham de verdade. É um trabalho muito bom”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário